Friday, September 30, 2011

Le futur n'est plus ce qu'il était

A crise vista por Paul Jorion


On se souvient de la scène célèbre dans le film 2001 : Une Odyssée de l’espace, de Stanley Kubrick : le superordinateur d’un vaisseau spatial en a pris les commandes et tente d’expulser dans l’espace le dernier astronaute vivant. Tout se passe froidement et en silence car l’ordinateur n’agit pas par vengeance, ambition ou cruauté : il a simplement calculé que le facteur humain était devenu un obstacle à la réalisation optimale de son programme.

Dans 2001, Odyssée de l’Espace, l’astronaute survivant débranche le superordinateur. En 2011, à bord du vaisseau Spatial Terre, dans le grand laboratoire européen, rien de tel. Chacun est à son poste et applique le programme prévu. Et à toute vitesse, pour ne rien voir, ne rien penser, ne rien ressentir. S’arrêter ?

www.pauljorion.com/blog/

Thursday, September 29, 2011

O que já li (e recomendo)

O que estou a ler (e recomendo)

Espinoza, encontro em Amesterdão


Joy is man’s passage from a less to a greater perfection (Spinoza, Ethics)

Fala de um cristão-novo


Sefarad, para onde fugimos
quando nos negaram a terra, a casa, a língua?
Sefarad, foi para junto desses mesmos
a quem hoje negamos a terra, a casa, a língua.


Tuesday, September 27, 2011

O sol negro da melancolia



Sol negro da melancolia,
esqueceste-me aqui?
Eu atravessei os rios para te encontrar
e visitei as Índias e os sertões e as Américas.
Agora que regresso a estas ruas donde vim,
onde nunca me conheceram, mas onde eu passei
trabalhos e dias e amores,
agora, onde estás tu, sol negro da melancolia?

Fui ingrato? Eu estou sempre pronto a voltar
à pátria que é minha.
Eu nunca te pedi nada.
Ou se pedi, foi aquilo que nunca me poderias dar,
a poesia, porque a poesia
não se dá, arranca-se à vida e segue-se em frente.

Sol negro da melancolia, o inverno vai chegar
e tu nada me disseste.


"Sapatos" Van Gogh


Apenas isto.
Na ruína que sempre se faz de uma vida,
os sapatos gastos falam-nos das montanhas que subimos
mais acima do coração e do esplendor perdido
das paisagens douradas e do gelo fino
que quase estilhaçava sob os nossos passos.

É o resto e o orgulho de uma vida.
Apenas isto.

Sunday, September 25, 2011

O ceifeiro



"O CEIFEIRO" DE VAN GOGH

Ele via esta enorme extensão de amarelo
da janela do seu quarto, no hospital de doidos
(assim lhes chamavam na altura) em que estava internado,
em Saint-Rémy, Provença.
Escreveu então ao irmão que esta lhe parecia a melhor imagem da morte:
uma criança que corta todo o esplendor da terra a florescer
no meio da alegria de um imenso verão.

Friday, September 23, 2011

Morreu Cora Vaucaire

Índia


" I spent four years in India" digo ao diplomata indiano que acabei de conhecer.

"So why did you leave?" pergunta-me ele, profundamente sério, sem um sorriso, nessa ironia britânica ou oriental, nunca sei (nem eles), que tantas vezes encontrei nos meus amigos indianos.

Porquê realmente? - pergunto eu agora.

Mas alguma vez deixamos aquilo que deixamos?

Em frente à casa de Marcel Proust



Há momentos no tempo que atravessam o tempo
e há tempo que morre por atalhos que sobram;
não te livras de ti se não souberes do tempo
esquivá-lo nas dobras e ganhar em palavras.

Há momentos passados num quarto de cortiça,
há momentos de glória e também sordidez;
passo em frente de ti e toldou-se a memória
do que li no que fiz, do que fiz no que li.


Thursday, September 22, 2011

Memória de Julho


Porque me lembrei agora de um Verão às avessas, de San Sebastián sob a chuva de Julho, das belíssimas fachadas cinzentas que nos ocultavam a noite, da chuva fria contra os nossos passos?

Não temos sede de realidade quando encontramos a memória. Não precisamos da memória quando nos abandonamos à noite.

Não sei porque falo disto agora.

Saudades do futuro


Não, a solidão deixou há muito
de nos frequentar.
A miséria não é solitária, é buliçosa
como uma colmeia.

Tem muito que aprender, viu?

Wednesday, September 21, 2011

Lá chegaremos

Ao tempo presente


Aquela cinza na manga do casaco
caíra do cigarro e distraído
ele olhava de frente o nevoeiro,
alheio ao que fora ou poderia ter sido
alguma vez.

Vejo-o como uma fotografia distante,
uma promessa de miséria trazida
de uma guerra antiga. Contudo,
ele está aqui, no meio de nós.
Nada espera. E já ninguém o espera.

Monday, September 19, 2011

Sunday, September 18, 2011

Leituras desgarradas


"Yet unless politicians act fast to persuade the world that their desire to preserve the euro is greater than the markets' ability to bet against it, the single currency faces ruin"

(editorial do "Economist")


(...) Mais ce bras de fer terminal témoigne de l’inanité de ce qui est en cause. S’il s’agit de faire de la Grèce un exemple pour toute l’Europe, cela risque de tout faire s’effondrer. Un jeu dangereux qui montre à quelles dernières extrémités en sont réduits des gouvernements incapables de définir un plan B.

Un entretien a été annoncé pour lundi entre Evangélos Vénizélos, le ministre grec des finances et les représentants de la BCE, du FMI et de l’Union européenne, que la réunion gouvernementale d’Athènes d’aujourd’hui va préparer.

La corde est tendue au maximum, autour de quel cou va-t-elle au final se resserrer ?

(François Leclerc, no blog de Paul Jorion)

Camões, "Os Lusíadas"

Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.

(Camões, "Os Lusíadas", X, 152)

Leituras desgarradas


"Le véritable Ground Zéro des États Unis ne se situe pas à l'emplacement du World Trade Center, mais à quelques rues de là, à Wall Street plus exactement, où en 2008 la crédibilité de la première puissance mondiale a sombré dans les eaux noires d'une crise autogénérée. "

(Olivier Zajec, "La Nouvelle impuissance américaine", Éditions de l'Oeuvre, 2011)

Excerto de um poema meu

(...)

Mas, por favor, não me entendam mal,
não me sinto alheio nem distante
(até porque de vós dependo)
e nada do que se diz na minha pátria me pode ser estranho.

É só porque dói...

(Luís Filipe Castro Mendes, "Lendas da Índia", p.83)

Saturday, September 17, 2011

No Man is an Island (John Donne)

No man is an island,
Entire of itself.
Each is a piece of the continent,
A part of the main.
If a clod be washed away by the sea,
Europe is the less.
As well as if a promontory were.
As well as if a manor of thine own
Or of thine friend's were.
Each man's death diminishes me,
For I am involved in mankind.
Therefore, send not to know
For whom the bell tolls,
It tolls for thee

John Donne (1624)

Portugal em Paris

Para quê poetas em tempos de indigência?

Mas, amigo, chegamos muito tarde.
Os deuses, de fato,
Vivem ainda, mas lá nas alturas, em outro mundo.
Infinita é sua ação ali e aos Celestes parece
Importar pouco a nossa vida, pelo muito que de nós poupam.
Pois nem sempre os pode conter um vaso frágil e
De raro em raro o homem suporta a plenitude do divino.
A vida é depois sonhar com eles.
Entretanto, o erro
É útil, tal como o sonho, e a aflição e a noite dão forças
Até crescerem heróis bastantes em berços de bronze,
De forte coração como os de outrora, iguais aos Celestes.
Hão de vir, trovejantes.
Porém, parece-me, por vezes,
Bem melhor dormir do que viver assim sem companheiros.
O que esperar, que fazer entrementes, ou o que dizer?
Não sei: e para que poetas num tempo de indigência?
Mas são, dizes, como os sacerdotes do deus das vinhas
Que, pela noite sagrada, iam de país em país.

(Holderlin, "Pão e Vinho", excerto, tradução José Paulo Paes)

Friday, September 16, 2011

Camões, "Os Lusíadas"


"Passamos a grande Ilha da Madeira,
Que do muito arvoredo assim se chama;
Das que nós povoamos a primeira,
Mais célebre por nome do que por fama.
Mas nem por ser do mundo a derradeira,
Se lhe avantajam quantas vénus ama;
Antes, sendo esta sua, se esquecera,
De Cypro, Guido, Paphos e Cythera."

"Os Lusiadas", Canto V
Luis de Camões

Sunday, September 4, 2011

Friday, September 2, 2011

Um poema de Manuel Bandeira


Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
— Respire.

...............................................................................................................

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Manuel Bandeira

Um Tango


"es el Verbo hecho tango"
(Jaime Gil de Biedma)

Porque haveremos de voltar sempre
à terra de onde vimos,
porque nos destinaram à pobreza
e nos pregam moral, ainda por cima
(por favor, batam-nos, mas ao menos calem-se!),
porque o rosto dos homens está usado
e a beleza das mulheres se tornou desatenta,
porque circula o ar gelado do nosso descontentamento
e alguns ainda andam a roubar as pratas do "Titanic"
em vez de fugir para as baleeiras

por tudo isso a única solução, como dizia Manuel Bandeira,
é tocar um tango argentino.

Regresso ao que somos - para quem gosta de tango

Regresso ao real

De um artigo de Robert Skidelsky no "Jornal de Negócios" de hoje:

De facto, as explicações keynesiana e hayekiana da origem da crise não são muito diferentes: em ambas o sobreendividamento tem um papel central. Mas as suas conclusões são muito diferentes.

Enquanto para Hayek a recuperação exige a liquidação de investimentos excessivos e um aumento das poupanças dos consumidores, para Keynes consiste na redução da propensão para poupar e no aumento do consumo para manter as expectativas de lucros das empresas. Hayek exige mais austeridade, Keynes mais gastos.

Temos aqui uma pista para perceber porque Hayek perdeu a sua grande batalha com Keynes nos anos 30. Não foi apenas porque a política de liquidação dos excessos fosse politicamente catastrófica: na Alemanha, levou Hitler ao poder. Como Keynes sublinhou se todos – famílias, empresas e governos – começarem a tentar aumentar as suas poupanças ao mesmo tempo, não há forma de evitar que a economia caia até que as pessoas sejam demasiado pobres para poupar.

Foi esta falha no raciocínio de Hayek que levou a maioria dos economistas a desertar do campo de Hayek e a abraçar as políticas de “estímulo” keynesianas. Como o economista Lionel Robbins lembrou: “Confrontados com a dura deflação desses dias, a ideia de que o essencial era eliminar os investimentos errados e… fomentar a disponibilidade para poupar era… tão desadequada como negar cobertores e estimulantes a um bêbado que tivesse caído num lago gelado, afirmando que o seu problema inicial era o sobreaquecimento”.

Excepto para os fanáticos de Hayek, parece óbvio que estímulo global coordenado de 2009 impediu que o mundo caísse noutra Grande Depressão. Não há dúvida que o custo para muitos governos de resgatar os seus bancos e de evitar o colapso das suas economias prejudicou ou destruiu a sua capacidade de crédito. Mas é cada vez mais reconhecido que medidas de austeridade no sector público, em alturas de gastos reduzidos no sector privado, leva a anos de estagnação ou provoca mesmo um novo colapso.

Assim, a política tem que mudar. Pouco se pode esperar na Europa. A verdadeira questão é se o presidente Barack Obama tem o que é necessário para ser um novo Franklin Roosevelt.

Para evitar novas crises da mesma dimensão, os Keynesianos proporiam o reforço das ferramentas de gestão macroeconómica. Os Hayekianos, por seu lado, não têm nada sensato a propor.

Robert Skidelsky, a member of the British House of Lords, is Professor Emeritus of Political Economy at Warwick University.


Um pensamento para Ganesha, no seu dia