Monday, August 30, 2010

Comigo me desavim...

"O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, afirmou hoje à rádio RTL que "pensou na demissão" em face da polémica acerca da expulsão de ciganos, mas que não o fez porque "sair é desertar".

Bernard Kouchner, que antes de entrar na política foi durante longos anos defensor dos direitos humanos, afirmou "não estar contente com o que aconteceu" e admite que a imagem de França foi afectada por esta política do Governo, que mereceu críticas das Nações Unidas e do Vaticano.
Kouchner considerou no entanto que a França, enquanto um dos principais países receptores de candidatos a asilo, "não tem nada de que se envergonhar".
O ministro afirmou que, de "coração apertado" com este caso, pensou na hipótese de se demitir, mas não o fez por considerar ser mais importante "tratar melhor" do assunto: "É importante continuar. Sair é desertar, é aceitar".
Questionado sobre se abordou essa hipótese de se demitir com o Presidente, Nicolas Sarkozy, o ministro respondeu: "Se não falarmos com o Presidente, falamos com quem?".
O Governo francês foi fortemente criticado pela sociedade civil, pela esquerda e pela Igreja pela sua política de desmantelamento dos acampamentos ilegais de ciganos e a expulsão de centenas de pessoas desta etnia em situação irregular para a Roménia."

(Diário de Notícias)

"Comigo me desavim

Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor da gente fugia,
Antes que esta assi crecesse:
Agora já fugiria
De mim , se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?"

(Sá de Miranda)

Sunday, August 29, 2010

Wednesday, August 25, 2010

Anónimos ficam à porta (2)

O meu nome é Luís Filipe Castro Mendes. Mais informações no anuário diplomático e nos dicionários de literatura portuguesa de Álvaro Manuel Machado e da Verbo. Não aceito neste blog comentários não identificados.

Uma citação triste de Eça de Queiroz

Também eu senti grande tristeza com a indecente recondenação do Dreyfus. Sobretudo, talvez, porque com ela morreram os últimos restos, ainda teimosos, do meu velho amor latino pela França.

Carta a Domício da Gama, 26 Set. 1899


EÇA DE QUEIROZ

Saturday, August 21, 2010

Thursday, August 19, 2010

Divertimento

Um diplomata só já é risível;
poeta e diplomata, isso é demais!

Fica bem nas fronteiras do incrível:
Vinícius e Cabral não quero mais!

Foi você que pediu Octavio Paz?
Não sei o que ele fez nem o que faz.

Poetas são patetas com plumas
e diplomatas são coisas nenhumas.

Claudel que vá rezar avé marias
e o Perse consertar as avarias

que fez à Resistência no exílio.
Não pensem que esquecemos o Abílio

Guerra Junqueiro, toda uma ameaça:
o Rei a cair morto numa praça!

Poetas diplomatas, vão pastar!
Poetas presidentes?! Nem pensar...

E não julguem que sou qualquer reaça!
Eu sou da nobre estirpe de um talassa...

Despedidas de verão

Sol negro da melancolia, volta a ter comigo:
nada esqueci, porventura nada aprendi.
Sento-me na rocha sobre a foz do rio
e digo que voltei para te reencontrar.

Escrevo à tua vista e deixo cair a sombra
negra sobre as margens do rio.
Sol negro da melancolia, sempre voltarei aqui;
nem sequer peço já para te reencontrar.

Friday, August 13, 2010

Ruy Duarte de Carvalho

Conheci-o em Luanda, em 1977. Convivemos durante todos estes anos, com muitas intermitências (e até com alguma distância crispada nos últimos anos) - mas com ele muito aprendi e pelo saber dele muitas coisas me mudaram e me fizeram crescer.

Um escritor mais importante do que parece, uma personalidade complexa, mas bem grande em toda a sua acidez e lucidez.

Ruy, devo-te sabedoria. E nada te dei.

Thursday, August 12, 2010

Anónimos ficam à porta

Este blog não aceita comentários anónimos, de qualquer tipo.

Monday, August 9, 2010

Manuel Teixeira Gomes



Ao grande escritor algarvio. E os talassas que insultam hoje a sua memória terão a sorte de Paiva Couceiro... o ridículo!

O Algarve não está parado

Conversa de manhã cedo com o presidente da Junta de Freguesia de Odeceixe.

Fica-se com boa impressão desta geração nova de autarcas (sobretudo depois de um ano na Índia a ler pela internet os nossos inefáveis jornais, que repetem "ad nauseam" o queiroziano chavão "isto é um país perdido").

Há na nossa terra gente que faz, sem precisar do coro de harpias neo-conservadoras ou neo-liberais que dominam hoje a nossa imprensa (se viesse para esta nossa praia a grande iniciativa privada, faziam disto ou uma gigantesca Quarteira ou uma inacessível Quinta do Lago).

Há autarcas activos, surgem pequenos empresários ... mas não desbloqueiam para trabalhar nem um dos 200 desempregados da freguesia inscritos no Centro de Emprego, porque tudo pára em Lisboa! Deve haver uma razão para isso : é melhor ter mais desemprego e gastar menos com as autarquias. Será?

"As monstruosidades vulgares" (Régio) que prevalecem na Costa Sul do Algarve estão aqui proibidas pelo Parque Natural da Costa Vicentina, apesar da oposição feroz da santa iniciativa privada... e do PCP!

Há sempre estranhos "compagnons de route" nesta vida...

O Algarve não é Paris...

Resposta de um empregado de restaurante odeceixense, instado a trazer o prato que a cozinheira se tinha esquecido de fazer:

"Minha senhora, não seja repetitiva!".

Venham-me depois dizer que os "garçons" dos restaurantes parisienses são arrogantes... os algarvios são bem superiores na arrogância! Temos a arrogância mais alta da Europa! Bravo!

(Tenho que reconhecer aqui, com humildade de algarvio, que o Norte de Portugal é diferente!)

Sunday, August 8, 2010

Um soneto ao Algarve para os meus amigos de Poço Barreto

O silêncio repousa sobre a terra,
quando a noite desiste de ser mar
e o coração da gente mais se aferra
à âncora perdida sem lugar.

Embarcação errante a tua vida,
inteira cabe nua neste mar:
que fizeste de ti, canção esquecida
sem sal nem búzios soltos a ecoar?

O erro sem discurso dos meus anos
deu-me estes versos só para partilhar
com quem viveu os mesmos desenganos
e o mesmo porto teve que deixar.

Dedico este soneto a uma terra
que em âncora se faz quando desferra...

O meu Algarve, poema (longo) de João Lúcio

O MEU ALGARVE (João Lúcio, O Meu Algarve, 1905)



Oh meu ardente Algarve impressionista e mole,
Meu lindo preguiçoso adormecido ao sol,
Meu louco sonhador a respirar quimeras,
Ouvindo, no azul, o canto das esferas
- A marcha triunfal dos mundos pelo ar. –
Para te adormecer, Deus pôs-te perto o mar,
E, para fecundar a tua fantasia,
No vasto palco azul, erguido nos espaços,
Fez mais belo para ti o drama em oiro – o Dia,
E deu, pra te abraçar, à luz, mais fortes braços.
Romântico torrão de doidas fantasias,
Namorado gentil, sensual e troveiro,
Onde o luar se orquestra em novas harmonias
E faz de neve em vez das neves de Janeiro…
Terra doirada, aonde as tardes caem mansas,
Como verga uma flor na haste delicada,
E onde os lírios são amigos das crianças
Numa amizade sã, divina, imaculada,
Algarve, onde os perfis, romanescos, dolentes,
Têm um ar de sonho e de fadiga mole,
E parecem abrir-se em curvas indolentes,
Como flores também, ao palpitar do Sol…
Campos de um verde álacre, onde zumbem as cores,
Onde transborda a seiva, alegres e felizes:
Sentem-se germinar as raízes e flores,
Na luxúria de Luz dos tropicais países.
Às tardes, cada monte eleva-se sereno,
Na fluida limpidez dos poentes de rosa,
E a paisagem tem um distender ameno
De mulher sensual, fecunda e preguiçosa.
Algarve das paixões, do amor violento,
Que fana, quando passa, as bocas, de desejos;
Aromática terra, onde a asa do vento,
Em vez de ser de ferro, é branda como os beijos…
Terra dos figueirais e das vinhas Formosas
Do luar novelesco, embriagante, albente,
Onde o Sol sensual cansa os nervos das rosas,
Numa volúpia de oiro intensa, absorvente…
Algarve do morghot, dos rostos escondidos,
Das lendas, das visões, das moiras encantadas!
Onde as línguas do Ar murmuram aos ouvidos
Com vocáb`los de sonho, as histórias de fadas…
Encantado jardim fremente de matizes,
Onde a cor dá concerto em sinfonias de oiro,
E onde, sob o solo, as ávidas raízes
Vão às vezes tocar nalgum velho tesoiro…
Costas do meu Algarve, onde é tão terno o mar,
Dum veemente azul em ritmos de veludo,
Com neblinas de prata, ao nascer do luar,
Espumantes de luz, quando o sol cobre tudo…
Costas azuis de sonho, onde os navios parecem
Lírios que vão boiando e voando serenos,
E as velas, correndo, ao longe se esmaecem
E semelham, assim, uns malmequeres pequenos…
Canta suavemente a água, sob as quilhas,
Com um vago rumor, cetinosa e azul,
As líquidas canções, as finas baladilhas
Deste mar sonhador, do meigo mar do Sul.
Como to és diferente, oh mar doce e saudoso,
Oh mar do meu Algarve, enternecido mar,
Do sinistro oceano escuro e ardiloso
Que esmaga os navios para os poder roubar!
Tu nunca, como ele, assassinaste, rindo,
Noivos a viajar, poetas, marinhagem,
Que sonham no convés, quando o luar, subindo,
Risca em prata na água o sulco da viajem…
Tu vais cantar de noite à beira dos moinhos,
Das colinas, dos cais, das praias murmurosas,
Para embalar o sono às aves nos seus ninhos
E para destruir a insónia das rosas…
Quando perto de ti as namoradas choram,
Meu belo aventureiro azul, vais consolá-las;
Por isso, lindo mar, elas tanto te adoram:
Abrem-te o coração, sempre que tu lhes falas…
Tu vais adormecer sobre o barco, cantando,
O pobre pescador cansado de remar…
Pra poderes tornar o seu mais brando;
Nem o barco, sequer, lhe fazes oscilar…
Tu vais fazer vibrar as pequeninas ilhas,
Emergindo de ti, brancas, silenciosas,
Na melodia azul das vagas e das quilhas
E das velas correndo, alvas e luminosas.
Vais fazer latejar, numa glauca harmonia,
As rochas junto a ti erguidas e soldadas,
Meu lindo mar do Sul, oh mar da Fantasia,
Da Aventura, do Amor, da Lenda e das Baladas!
Luar do meu Algarve, imaculado e fino,
Luar fluido, de neve, opalas e jasmins,
Romântico luar, transparente e divino,
Que inundas de Quimera as áleas dos jardins.
Cetinoso luar, querido dos marinheiros,
Luar sentimental do sonho e dos amores,
Que nevas com a luz a água dos ribeiros
E dos lagos azuis deitados entre flores.
Tu vais tecer, de leve, em brancas musselinas,
A baías, o mar: entulhá-los de estrelas;
Romantizas os cais, as ilhas, as colinas,
As curvas dos perfis, o voo ágil das velas.
Vais rolar, sobre a serra e nos vales floridos,
O teu alvo fulgor de mármore e de arminhos:
Tornas os corações bons e compadecidos,
Idílicos; o campo, as estradas, os ninhos…
Negrejantes pinhais vivendo à beira-mar,
Vales sorvendo luz, colinas maceradas,
Silenciosos navios ao longe a navegar
Sobre o trémulo seio das águas desmaiadas.
Toca-vos o clarão evocador da lua
E tendes logo o ar dum sonho desenhado,
Como um fluido véu por sobre vós flutua
Esse pólen da luz, que os mundos tem criado…
Oh sol, vibrante sol, do meu Algarve de oiro,
Que fazes palpitar os peitos e os jardins
No mesmo grande amor, fecundo, imorredoiro,
Que rebenta, na Vida, em olhos e jasmins:
Oh sol que pões no Céu um brilho violento
E fazes chamejar, ao longe, os horizontes;
Que pões fogo no ar e pões brasas no vento
E que vais calcinar a epiderme aos montes:
Adoro a tua luz vigorosa e sadia,
Que moldura no campo a música das cores,
Que rega, em nossa alma, os cactos da Alegria
E esculpe na semente os bustos das flores:
Cai-me sobre o olhar: banha-me em teu fulgor,
Oh sol que pões no Céu um latejante azul:
Dá-me a tua alegria e dá-me o teu vigor,
Oh sol, imortal sol, do meu país do Sul…
Manhãs do meu Algarve, auroras grandiosas,
Abrindo pelo Céu girândolas de cores,
Feitas de seda e oiro e mármores e rosas,
Acordando de manso as sonolentas flores!
V`luptuosas manhãs triunfais e supremas,
Em que o ar não tem mancha, a luz não tem algemas!
Auroras que deixais as montanhas eztáticas,
No triunfal fulgor com que ides inundá-las:
Deslumbrantes manhãs intensas e dramáticas,
Dilúvios de rubis e liquidas opalas!
Plo ar imaculado o vosso oiro palpita,
Como um pólen de luz celeste e fecundante,
Que vem tornar a terra a santa mãe bendita,
Que, sob os astros, gera a vida, a cada instante.
Oh manhãs sobre o mar, vossa frescura trago-a
Dentro do coração e na curva do olhar!
Manhãs, que pareceis incêndios sobre a água,
Quem me dera um pincel pra vos poder pintar!
Oh mar, oh sol, oh noites transparentes,
Campos a burbulhar a seiva que os invade,
Horizontes sem mancha, alvoradas ardentes,
Olhos frescos de amor ensinando a saudade,
Eu amo a vossa cor, o vosso brilho forte,
A fecunda alegria que de vós se evapora;
Detesto a palidez que cobre os céus do norte,
Onde a Cor se desbota e onde a Luz se descora.
Frio encanto polar das montanhas geladas,
Com um sinistro alvor de sepulcral luar,
Alva graça mortal das campinas nevadas,
Que a natureza fez para o cinzel imitar:
O vosso encanto é um encanto de morte,
Vossa beleza é a paralisação:
Oh arte glacial das regiões do norte
Não fazes palpitar jamais o coração!





Natureza imortal, tu que soubeste dar
Ao meu país do sul a larga fantasia,
Que ensinaste aqui as almas a sonhar
Nessa frescura sã da crença e da alegria:
Que inundaste de azul e mergulhaste em oiro
Esta suave terra heróica dos amores,
Que lançaste sobre ela o canto imorredoiro
Que vibra a sinfonia oriental das cores:
Tu que mostraste aqui mais do que em toda a parte
O intenso poder do teu génio fecundo,
Que fizeste este Céu para inspirar a Arte
E lhe deste por isso o melhor sol do mundo:
Ensina algum pintor a fixar nas telas
Este brilho, esta cor, inéditos, diversos,
E põe a mesma luz que chove das estrelas
Na pena que debuxa estes humildes versos.

Os juízes, caricatura de Daumier

Sunday, August 1, 2010